Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (22/04) um compromisso para cortar as emissões de carbono em 50-52% abaixo dos níveis de 2005 até o final desta década.
Essa nova meta, que será revelada oficialmente em uma cúpula virtual de 40 líderes globais, duplica a promessa anterior dos EUA.
Os americanos esperam que seu plano ambicioso incentive a China, a Índia e outros países a aumentarem suas metas, antes da reunião crucial da COP26, em Glasgow, em novembro.
Mas haverá algum ceticismo sobre a capacidade dos EUA de cumprir sua nova meta, dada a polarização da política americana.
Desafio
O clima tem sido o foco central dos primeiros meses de governo do presidente americano Joe Biden.
Além de colocar os EUA novamente no Pacto Climático de Paris (seu antecessor, Donald Trump, havia retirado os EUA do acordo) e organizar a cúpula do clima com 40 líderes desta quinta-feira, a equipe de Biden tem trabalhado para mostrar que leva a sério o compromisso contra o aquecimento global.
Muitos ativistas e políticos pressionavam os EUA a se comprometerem com um corte de 50% nas emissões. O fato de o presidente Biden estar preparado para ir além desse nível deverá ser festejado por cientistas e ativistas.
“Ao anunciar uma meta ousada de cortar as emissões em 50-52% abaixo de 2005 até o final da década, o presidente Biden atendeu à urgência que a crise climática exige”, disse Nathaniel Keohane, do Environmental Defense Fund, um grupo sem fins lucrativos de ativismo ambiental.
“Esta meta está alinhada com o que a ciência diz ser necessário para colocar o mundo no caminho para um clima mais seguro e coloca os EUA no topo da lista de líderes mundiais em ambições climáticas.”
A nova promessa significará grandes mudanças no modo de vida americano. O carvão terá de desaparecer dos componentes de eletricidade, enquanto carros e caminhões que consomem muita gasolina terão que se tornar elétricos.
Mas anunciar uma meta ambiciosa é uma coisa — transformá-la em realidade é outra.
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Embora os democratas tenham maioria na Câmara dos Representantes, o Senado está em um impasse, tornando a aprovação de uma nova legislação climática bastante complicada.
“Me parece que o presidente Biden está um pouco em apuros e terá que lidar com o Congresso que recebeu”, diz Samantha Gross, do Brookings Institution, um grupo independente de pesquisas.
“Mas acredito que o Congresso, especialmente os republicanos, não está seguindo a crescente preocupação do público americano com o clima.”
Cooperação EUA-China
Entre os 40 líderes presentes na Cúpula estará o presidente da China, Xi Jinping.
Apesar das sérias tensões entre os EUA e a China em diversas questões, os dois lados parecem querer separar o problema ambiental das outras disputas.
Antes da reunião desta quinta, uma alta autoridade do governo americano falou sobre a abordagem cooperativa.
“É bastante claro que há um nível grande de ambição que compartilhamos. Ambos os países veem isso como uma crise. Ambos veem a necessidade de ação na década de 2020. Ambos os países veem a necessidade de trabalhar para manter o aumento das temperaturas globais em 1,5 grau”, disse a autoridade.
“Certamente esperamos que o presidente Xi venha à reunião e fale com mais detalhes sobre alguns dos esforços adicionais que a China pretende fazer. Mas acho que temos uma base muito forte já na declaração conjunta que os dois países fizeram sobre as direções que parecem estar tomando.”
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Mas para outros países que demoraram a adotar medidas contra a mudança climática, a equipe de Biden foi menos entusiasmada.
A abordagem dos atuais governos do Brasil e da Austrália em relação ao meio ambiente era bem-recebida pela Casa Branca de Trump. Agora isso não é mais assim.
“No momento, acho que nossos colegas na Austrália reconhecem que terá que haver uma mudança”, disse um funcionário do governo americano.
“É insuficiente seguir a trajetória atual e esperar que se chegue a uma profunda descarbonização, e a emissões zero de carbono até meados do século.”
Falando sobre o Brasil, o mesmo funcionário disse: “A expectativa para todos os países é que a ambição precisa ser ampliada imediatamente”.
TRACEY NEARMY
Espera-se que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, diga na reunião virtual da Casa Branca: “O Reino Unido mostrou que é possível cortar emissões enquanto a economia cresce, o que torna a questão de alcançar a emissão zero não tanto técnica quanto política”.
“Se realmente queremos impedir a mudança climática, então este deve ser o ano em que levamos isso a sério. Porque a década de 2020 será lembrada ou como a década em que os líderes mundiais se uniram para virar a maré ou como um fracasso.”
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Além da promessa dos EUA, também se espera que novas metas sejam anunciadas por vários países.
“Os três que eu acho mais prováveis que anunciem novas medidas nesta cúpula são Canadá, Japão e Coréia do Sul”, disse Helen Mountford, do World Resources Institute, uma organização não governamental ambientalista. Ela diz que seria “fantástico” ver um anúncio da China, mas que não espera que algo seja feito nesta cúpula.
Ela acrescentou: “A Índia é um verdadeiro ponto de interrogação, mas se eles vão anunciar uma meta de emissão zero ou um plano aprimorado, eu diria que há menos chance disso.”
Para aqueles que estiveram envolvidos nas negociações que levaram ao Acordo de Paris em 2015, o mais importante nesta semana é que não haja obstáculos nas novas discussões.
Esta é a primeira grande reunião sobre o clima de um ano importante que culminará na COP26, com cerca de 200 líderes mundiais em Glasgow em novembro.
“Acho que para a cúpula dos líderes dos EUA ser um sucesso, precisamos ter os 40 líderes presentes e expressando sua vontade de se chegar a um acordo forte até Glasgow”, disse Remy Rioux, que foi negociador da França durante as negociações de Paris.
“E também para os EUA demonstrarem que estão de volta, e da forma mais convincente e forte possível.”